domingo, 25 de outubro de 2015

PSEUDO-NARCISO

Você não parece mais o mesmo.
Seus olhos olham com desdém,
Não compram. 
Bom demais para caber em si.
Transborda sua imagem da fonte 
E você se lava nela,
Mas não se afoga.
Contei-lhe sobre Narciso certa vez 
E você mudou de nome.
As ninfas: todas suas.
Eco já não mais.
Enquanto espera que você se afogue 
Ou vire flor à beira dos rios
Ela fecha os olhos para não olhar.
Não lhe olha,
mas lhe repete todos os pedidos
- não fujas 
- fujas...
- por que evitas meu olhar?
- evitas meu olhar! 
"Para a maldição sentido há" 
Engole o choro e afirma em pensamento:
Você não é mais o mesmo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

ANO PSICOLÓGICO

Ah, se pudesse eu,
Desconhecido das maneiras de sentir,
Olhar outra vez esses seus olhos
Como se olhasse tão fundo para dentro de mim 
E girasse os ponteiros para aquele Abril 
Que de tanto amar virou Janeiro.
Vida nova, o mundo inteiro;
Dia um, um de você é o primeiro.
Era o começo da esperança sem fim 
Me dava para você como em Dezembro.
Fazia um laço para em cada noite desfazer
O meu presente era me dar
E me perdia naquelas voltas 
Que você me dava enquanto olhava o embrulho desfeito. 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

QUANTO TEMPO MAIS?

Quando sua poesia não aguentar mais
E fechar a boca para tudo que já fora dito 
Saiba que ela vive 
E como o seu amor, ela também vai lhe abandonar 
Você sentirá sua falta 
Chorará pelas palavras derramadas
Em vão 
Como todas as lágrimas outrora derramadas:
Em vão. 
Quando o verso se desfizer 
Será você desfeito 
E quando ele mais parecer vivo 
Será seu último suspiro de paixão 
Escorrendo pelo ralo que deságua no coração mais próximo. 

sábado, 10 de outubro de 2015

UNIGÊNITO DO CORAÇÃO

Pense nas noites que me fez perder
E nos sonhos onde aparecia sorrindo 
Lembre-se de mim no alto daquele farol 
E de que durante a noite eu cuidava do teu sono
Vigiava os portões do seu íntimo para que você pudesse dormir 
Guardava-lhe dos fantasmas da madrugada 
E lhe punha a repousar sem medos. 
Rememore os seus pesos que ficaram sobre minhas costas 
E que na calada dos doze badalos eu descarreguei todo seu entulho muito longe do seu olhar.
No deserto da sua presença me fiz presente 
Quarenta dias secando seu suor 
Quarenta noites para dizer "até amanhã" 
Um demônio a me tentar 
Oferecendo uma vida longe do seu abraço, 
Uma morada bem distante do seu sorriso, 
Segurança.
Eu resisti e a Jerusalém retornei como rei 
Bem sabia eu que nos meus ombros estava o rei, 
Eu, burro, o carregava
O exaltava 
HOSANA NAS ALTURAS 
Descrente 
Gritava meu peito 
HOSANA NAS ALTURAS
E na terra, para mim, um pouco do que sobrar do seu amor