quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CANTIGA DE AMOR

Oh minha Senhor, quando te vejo passar
Que passes na rua, na lua ou no mar
Arranca de mim um suspiro de amor

Minha Senhor que todo dia vejo
Passe e leva contigo todo esse desejo
Arranca de mim um suspiro de amor

Os meus olhos são rua, são ondas do mar
Ponho-os em tua disposição para velejar
Arranca de mim um suspiro de amor

Oh minha Senhor, tu és meu lampejo
Por toda minha vida com meus olhos te cortejo
Arranca de mim um suspiro de amor

SONETO DO SANTO TEMPO

Se por minha sorte um martírio não fosse
e se por pensar, não pensasse que  viria
a padecer diante a cruz do mel mais doce
sofrendo as dores de ser sua santa Maria;

Não praguejava os nomes de quem te trouxe,
nem ia em sua busca numa eterna romaria.
Revirar a vala do que nunca preocupou-se
traria a tona a dor impiedosa da minha agonia

E em meio a toda a incerteza angustiante
apareceu para conjurar aquele momento
e por a coisa toda de volta em trilho;

Um santo homem que alegrou por meio instante
quem não gracejava-se a tanto tempo
(o que não durou o ensejo de um trocadilho)

PRIMAVERAS

Rueiro eu
despido e sem morada
um belo dia sou todo seu,
aposentei a minha espada

essa vida tão aguada,
esse leito espinhado...
-já cansei da madrugada-
no escuro é complicado

-mas o escuro é requintado,
até posso me virar-
lembrava sempre assegurado
de muitas birras pra lutar

e lutar e ser vencido
[nunca antes, porém agora]
estapeado, maltrapilho,
-se acostumar sempre demora-

e na demora erguendo choupana ,
ardendo as brasas pra se aquecer,
vendendo as planeias pra se manter,
se manter as custas do que se ama

vendeu até se apagar a chama
e seu orgulho não valer um vintém,
vendeu os livros, comprou uma cama
e lá dormia com seu ninguém

então pensava -é o que se tem-
as vezes via que nada tinha,
outras vezes queria plantar sua vinha
[sementes custam caro também]