domingo, 14 de fevereiro de 2016

COCEIRA

Os dedos do meu pé coçavam. Incomodavam agudamente cada canto das minhas unhas enquanto eu sofria de uma dor também aguda em meio às costelas. Algo parecia comprimir os meus ossos ao ponto deles quase se quebrarem, todavia os dedos do pé chateavam muito mais. Eu sabia por que meu corpo se obstringia, não era novidade para nenhuma nova cara que eu pudesse fazer de fronte ao espelho. Eu queimava alguém dentro de mim naquele exato momento e por algum motivo psico-biológico meus pulmões eram afetados pelos ossos que os abraçavam. Não ardia como o fogo deveria arder. Também não importavam os sintomas e sim as causas. Eu apenas sabia. Era uma oferenda de uma metade para a qual eu me dei inteira que consumiu o meu todo e jamais sequer foi a metade que eu supus. Ela esbraseava dolorosamente e me fazia bem ciente do processo de incineração. Agora... Por que os dedos do pé coçavam? Não sei. 

CLONAZEPAM IV

sinto sua falta
sobre a estante
sob a língua 
derretido 
esparramado 
tão de casa.
o esfarelar doce 
sujando os dentes,
moldando os sonhos 
por baixo do pano preto.
o livramento 
não-burocrático 
e particular.
derradeiro suspiro
antes de afundar num rio de nada 
e lá nadar com cada nada.
eu sinto falta 
daquele nada.