sábado, 26 de abril de 2014

A HISTÓRIA DE UM SUJEITO

Quinta-feira, qualquer mês de clima inconstante e tedioso e qualquer ablução pendente. Qualquer esquina pouco frequentada por qualquer um que seja e não haveria melhor definição para um momento qualquer. Chovia e os vidros embaçados povoavam São Paulo de maneira indevida e constante para um dia molhado. Testas recostadas nas vitrines dos loucos e uma dúvida estava pousada sobre um passageiro qualquer num ônibus qualquer que ia rumo ao centro da cidade: Vou ou não? De fato há milhares de lugares para ir, mas, Quinta-feira? Não!
A questão o enfurecia e confundia a cada parada do veículo, não sabia se estava adequadamente vestido para nenhuma das ocasionais estadas daquela noite e então resolveu saltar próximo à primera parada da sua confusão mental e talvez trigésima do ônibus. Por vários instantes (o que dificilmente poderá ser definido em unidades, dezenas ou dúzias de minutos) olhou o seu redor e pessoas extremamente comuns, casualmente vestidas e tediosas o escoltavam parado e isso o fez tomar a decisão mais divertida, ou menos aborrecedora.
Não importa para onde tenha ido e sim que esteve lá. Pediu uma cerveja (até em igrejas temos essa opção, certo?), e permaneceu como sempre permanecia: indiferente. Estava parcialmente molhado pois não há possibilidade de se caminhar com um guarda-chuva pela cidade e são diversos os agravantes dessa situação. Seu estado úmido começou a incomodá-lo mas ele não se sentia estranho, e estranheza era uma característica corriqueira e permanente do sujeito. Resolveu tomar outra cerveja mas antes precisava esvaziar algo que ele carinhosamente chamava de reservatório (em tempos que reservatórios deveriam ser constantemente preenchidos, em todos os sentidos). Voltou, e junto ao seu pedido amargo, sentou à mesa. Não estava mais desacompanhado, estranhou. Sua companhia era de papo fácil e horas se passaram, horas foram perdidas. Esvaeceram-se todas as ideias e supostos compromissos para aquela noite, tudo isso decorrente de uma charmosa companhia (a qual merece ser adjetivada pois de que importam os nomes se não tiverem qualidades?) A noite acabou e com ela a atípica impressão de não estar mais sozinho.
Pegou muitos outros ônibus depois disso. Não apenas em dias chuvosos. Entrou em diversos outros conflitos pessoais depois disso, quase em todos os dias que precisou de um ônibus para seguir viagem, e esses dias foram de resultado igual a todos os dias, o que gera uma prazerosa diversidade de conflitos a serem resolvidos (ou esquecidos). Todavia, aquele charme qualquer daquele dia qualquer transformou um pronome indefinido em algo erroneamente significativo.