segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CLONAZEPAM III

que as nuvens chovam ácido,
e os gritos,
desesperados,
ensurdeçam os acordados,
que o caos se instale em toda parte, 
que os ventiladores emperrem
no verão de Dubai,
que as baratas vivam 
e que o mundo inexista,
assim como os micênicos,
assim como você.
não importa.
que as buzinas dos carros desparem 
e nada as interrompam 
e as sirenes das ambulâncias 
enlouqueçam a cidade
procurando por ninguém.
não importa. 
que as dores entre as costelas 
permaneçam anestesiadas,
mas ali,
pulsantes.
e que o frio na barriga da tristeza 
congele tudo o que restou de nós.
não importa. 
que as flores nasçam,
morram,
que os dias passem,
em branco, 
sem fome,
sem sede,
sem recordação.
não importa,
não enquanto durar o paraíso do esquecimento.