sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PAPEL

Sou o tronco haurido em pecado
e a dor do mato morto
padecido na metalinguagem da arte
e que pela arte não mais retornará.
Despido das cascas,
da história,
dos anos
e dos corações
esculpidos por namorados
tão ontem e ontem ainda.
Lavado e limpo
e já não sou mais eu
e sim a matéria prima do prazer
do poeta amador,
dos trovadores da cidade,
dos mendigos aculturados
e das moçoilas apaixonadas.
Sou livro,
sou bula,
informo,
consumo,
coajo...
Eu sou para errar.
Seu medo de matar e sua vontade de sumir,
o seu pranto sofrido e as águas da saudade,
a alegria nos olhos que escorre pelo rosto
e enfim se finda. Sou fonte.
Não me encerro
e mesmo sendo eu
árvore arrancada
em outrora sou outra vida,
sou folha reciclada.